sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

sábado, 6 de dezembro de 2008

Vou indo pra casa

A mini-vida, sendo ignorante ou os 35 dias que eu vivi pra te contar



Nós vamos.Todos. Alguns. Juntos, dispersos e apartados.Atados.Retalhados em nossos ferimentos. Afogados em cerveja fermentada. Martirizados na vergonha do enredo que ainda vai vir.Sacramentados pelo controle psíquico que nos é imposto.Vamos. Descolocados em princípios antepassados. Nós damos um passo.

Outro.

Em todos os cadernos de todas as vidas, temos curvas.

Peguei um mapa e andando pela primeira vez em Barcelona, sozinha, senti minha costas. Pesada. Ninguém iria ajudar.E o pensamento, aquilo que nos é um presente e também é angústia absoluta não me permitia desapegar do lugar que eu passava. Do amor que eu queria. Da fé que eu andava atrás.


A fuga de um é o desfecho pra outro. E pra um terceiro, desvio de rota. E damos novos passos. A gente não se parece com ninguém mas é igual a todo mundo. Cabelos coloridos ou brancos ou da cor do que você quiser e ainda assim nosso olhar nos fazer coexistir. Em qualquer metrô é persistente a tentativa em desviar do rosto que está na sua frente. Fingir indiferença. Fazer de conta que é trivial. Mas nada é pouco e mesmo vagando do trabalho para o bar ou para o sofá nos esforçamos. Suando pra não ter medo.


Mas temos.

E um passo.

O dia mais alegre foi em Paris. Assistir ao show da sua banda favorita tão de perto pra quem ama música porque não consegue amar nenhuma outra coisa, do mundo das coisas , mais que isso é excepcional. E naquele dia eu pensei em desistir. De ir só. De estar só. De me esforçar pelo o que é improvável; com esse passo encarei a minha agenda em me sentir ridícula...


Outro passo.

Mais lento.

Fui para a Itália de mapa, mas ainda não sabendo como entendê-lo. E ainda que com as direções certas no plano perfeito e coerente das coordernadas porque a gente vira para o lado oposto?
No vai e vem da nossa teimosia em perseguir jornadas planejadas evitamos o quanto podemos o fora do contexto. Mas ele nos atropela.

E agora eu já sabia, que se eu queria estar longe pra dar conta de existir pra mim, então já não tinha mais graça.

Falta.

A falta.
E obrigatoriamente, mais um passo.

Muitas e muitas e muitas vezes fazemos da nossa expectativa a nossa escravidão maior. "Deve ser assim", nós pensamos. E inventamos rotas e a seguimos sem hesitar... até o primeiro defeito, até o segundo atalho ou a primeira baixa. E quanto ao percurso traçado?


Budapeste foi dolorida, todo aquele silêncio dos que não têm muito a dizer me incomodava. E se a neve era o prenúncio de que dali em diante o frio estaria comigo, eu tremi. Um viajante de Londres, que estava na estrada há mais de dois meses me contou que o mais interessante desse processo é que você é ignorante o tempo todo porque você nunca sabe nada da cidade e quando começa a saber, a deixa.


E reconhecer que não se sabe nada custa muito; custa a crença em valores antigos. Custa toda a sua formação cultural, custa sua sequencia de pensamentos organizados na sua mente programada diariamente desde o dia em que nasceu. Custa sua revolta com a completa e vergonhosa ignorância.


Mas tem que dar o passo. E vou.


Vamos.


Experimentar a condição de não ter um abraço quando se deseja é como ter dinheiro suficiente pra comprar qualquer coisa mas não ter nenhuma coisa que lhe importe. E depois de 20 e poucos dias sente-se também o buraco de ter se acostumado com si mesmo. Você já escuta a voz que você evitava e sabe também manifestar suas exigências, já que ninguém vai fazer isso por você, cabe a ti a ordem e progresso da sua própria neurose.


Os passos já são mais rápidos. Acostuma-se. Como sempre ou quase.


Ver a guerra e ver que ela é insuperável te faz saber que é tabu ainda chegar perto disso. Berlim foi o meu encontro com a minha fissura em viver mesmo quando acho que preferiria morrer. É a cidade que mais se parece comigo. Ali combina-se uma alma nova com um passado infeliz demais pra ser repensado. Um lugar que foi dois e que dividido por um muro separou amores, ideologias e enterrou de vez a esperança.


Mas os passos continuam, vão sem batimentos, vão.


Eu também dei meus passos.


E um brasileiro que por quatro meses morou na Alemanha, estava voltando pra casa e me contou que na bagagem carregava essa espécie de mini-vida. Era como ele definia aquilo que ele viu e sentiu naquele tempo.


E gostei disso, da mini-vida, como ele chamou... desse tempo que temos e que nos damos pra criar nosso novo dicionário. Conseguir dar novos significados pra aquilo que não nos é inteligível a princípio. Livrar-se da nossa casa, do nosso idioma, do nosso rebuscado sentimento em pertencer; alguém,a uma cidade, a uma cultura, a um sentido.


E pra mim saber que a fuga não existe porque a gente não esconde de si mesmo o que se é por muito tempo foi despudoramente uma ousadia, uma caverna, um buraco, uma montanha que eu enfrentei.


E por isso vim até aqui pra falar dos 35 dias em que eu vivi e que eu fui mais Lara.


















sexta-feira, 5 de dezembro de 2008




























































































Poeminha feito aqui

Em Berlim


Eu quero minha alma finalmente recolocada no corpo
pra que assim eu levante da cama
e eu consiga me manter em pé
E não me sentir escurecida pelo
meu esconderijo
O que é a minha vida senão passos compridos
em que procuro armazenar todo o amor
que posso?
Gostaria de tocar no mais distante dos pontos de sua fragilidade
Gostaria de desabafar as vergonhas que estão na sua mala
Gostaria de visitar o castelo das idéias que estão coladas no seu precipício
Queria ficar gelada como morta pra saber se assim você me veria
Queria sair da superfície
Mas será que você também consegue?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Mauer Museum Haus Am Checkpoint Charlie




Entrada do Museu, pena que lá dentro é proibido fotografar, reparem atrás de mim nessa pilastra

E pra lembrar da História e dos bons tempos do jornalismo:

Opressão, medo, violência e finalmente sem muros. Será?




Eu no post anterior já afirmei minha curiosidade, interesse e desejo em aprender um pouquinho de História por aqui. Assumo minha total ignorância e não sei se no colegial a culpa é dos professores, pela forma retrógada em ensinar ou minha mesmo de não dar atenção devida às aulas. Possivelmente dos dois, uma pela imaturidade outro pelo jeito nada interessante em ensinar.

Apesar da neve, senti Berlin melhor. Andei. Vi pessoas. E fui a um lugar que pra mim foi único. Estive no Checkpoint Charlie, nome dado a um dos pontos de cruzamento entre Berlin Oriental e Ocidental. Hoje no lugar do bloqueio, dos soldados armados e de trechos do muro que já não existe mais, temos um Museu privado com documentos e fotos desde a Segunda Guerra. É bem duro ver tudo aquilo. E ali bem na fronteira dá pra sentir arrepios. Dá pra sentir não sei o quê. É uma vibração pesada porque aquilo ali é testemunha de muita coisa. Muita gente morreu. Muita gente foi morta mas viveu. Não se existe sem liberdade, se

Só na Segunda Guerra morreram aproximadamente 55 milhões de pessoas.Um terço do Brasil. Depois disso a Alemanha teve caminhos que apartaram um povo. Nesse museu temos histórias mirabolantes de fuga de gente que queria sair do regime comunista. Túneis, mulher dentro de mala, balão e até gente voando. Literalmente.

Até hoje a placa está lá com os dizeres: You are leaving the American Sector. Eu tento, tento, tento mas pra mim é no mínimo enclausurante imaginar que não se tinha o direito de ir e vir. Famílias separadas, casais, amigos, vidas, sentimentos e repressão. Sempre vigiados. Em constante controle, o tempo todo em monitoramento. Não era escolha, era coação. Era não ter como dizer: quero ir pra lá. Não, você não pode.

E então, de novo como entender a História. Como reviver isso? Eu tinha onze anos e me lembro da TV, da revista Veja. Me lembro de não entender mas de saber que devia ser bom já que as pessoas comemoravam.

Cadê o muro no Brasil? Ou o monte de pequenos muros que implicam em uma sociedade contrastante entre ricos e miseráveis e uma boa turma entre isso, classe média que capenga mas vai indo. Cadê a polícia que ainda tortura? Cadê o tráfico que também domina e tem seu regimento interno que controla tantas comunidades?

E o nosso muro diário do medo da violência? A gente mora em condomínios fechados com segurança privada. O que é isso? E aquele muro entre os que ainda são estigmatizados pela cor. O Pelé não entrou no Praia Clube há menos de 30 anos atrás.

Pensa nisso! Pensa que nossa História recente de pouco mais de 500 anos é também marcada pelo constante abuso desde sua formação. E pra sobreviver teve que se dar um jeitinho?! Aí ficou complicado, jeitinho é ginga ou não ter ética? Ou usar um pouquinho de cada conforme a situação?
Ufa, como o brasileito é leve, risonho, espontâneo. Sim, somos. Por isso Chico e Caetano cantaram: " mesmo com toda a fama, com toda a brahma, com toda a cama, com toda a lama, a gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando..."
Eu não sou nem completamente destrambalhada pra comparar lá com cá. Ou cá com lá. Pra mim Berlin tem até agora uma textura, um barulho e um desconforto que é de si. Não há como cogitar compreender uma História ou as histórias que a cercaram em um bocado de dias. Isso aqui diz respeito a um direito irrevogável de nós todos: a vida.

Cada Brasil com sua banana. Cada Alemanha com sua divisão. E o que eu posso fazer senão vir até aqui, arrepiar, chorar e por rápidos dias imaginar que gente como toda gente do resto do universo caminhava por esse mesmo chão que estou pisando.

Puta, isso é mágico. Isso é disparado o que mais me comove em toda viagem, a cultura de cada um. Eu não sinto absolutamente nada com a loja da Gucci, com os bares pós-modernos e seus cardápios, muito menos com as bolsas de 800 euros. Com a tecnologia de tudo que me rodeia.

Eu gosto mesmo é de ver uma criança pequenina aprendendo a falar sua língua e pais que a ensinam gentilmente. Gosto dos cachorros tratados com dignidade, dentro de um metrô. Gosto de ver um casal se pegando( beijando ou brigando) em qualquer canto. Gosto de idosos que se animam a pegar um mapa e sair do seu país pra conhecer novos lugares. Gosto de saber que alguém é capaz de me ajudar com a minha mala. Gosto de ver todas as livrarias por onde olho e as pessoas emburradas lendo em pé. Gosto de ver as mulheres aqui dirigindo táxi, bonde, metrô e avião. Gosto de ouvir as línguas diferentes. Gosto de conversar com quem sabe que no Brasil falamos português. Gosto da turma de amigas falantes nas ruas. Gosto de saber que eu só só mais umazinha e que de verdade nada pode ser tão importante assim. E gosto sim de saber que eu tenho casa pra quando eu voltar.

Portanto, minha emoção por essas pessoas que morrem porque enfrentam. Minha solidariedade para as famílias que se perdem porque o ser humano é tão bom quanto pode ser mas também sabe ser cruel e aprende a matar. Minha mão pra dor da fome, que eu também vejo aqui. Gente na rua, no frio e jogada, só esperando... esperando... esperando...






































Pra vocês que estão no calor... refresquem-se!